Cotidiano

“Ele dizia que eu nunca seria feliz”, diz vítima após 30 anos de agressões

Mulher rompeu relacionamento abusivo após três décadas de sofrimento com ajuda do Chame, centro que completou 12 anos

“Tudo o que eu vivenciei, não quero que outras mulheres passem”. Essa afirmação é de uma mulher que prefere não ser identificada. Ela sofreu violência doméstica por 30 anos em um relacionamento marcado por agressões físicas e psicológicas.

A vítima não entrou em detalhes de quando começou a violência, mas descreve que passou por traições, espancamentos e ofensas do ex-companheiro. E toda vez que a machucava, ele prometia que não iria repetir, porém eram promessas vazias. Até que um dia, a mulher teve coragem e disse para o agressor que, se não parasse, iria denunciá-lo.

“Por ser uma pessoa pública [o agressor], ficou com receio e parou. Mas as agressões psicológicas não cessaram. Me chamava de velha, que ninguém nunca iria me querer e não merecia ser feliz. São aquelas palavras que nos jogam para baixo. Muito ruim passar por isso, porque você perde o chão”, disse.

Aos poucos, as palavras destruíram a autoestima da mulher, a ponto de ela quebrar os espelhos da casa por não se achar bonita. “A dor não é só aquela de quando a gente apanha. A psicológica causa uma cicatriz, uma ferida aberta”, descreveu.

Um dia, em casa assistindo à televisão, ela ficou sabendo do Chame. Mesmo com medo procurou ajuda, e lá se sentiu acolhida pela equipe de profissionais. Aos poucos, sua mentalidade e história começaram a mudar.

“Graças a Deus que existe o Chame, que entendeu o que eu estava passando. Não queria estar no fundo do poço. E elas [profissionais] me tiraram de onde não havia claridade. Hoje, caminho de cabeça erguida”, desabafou.

12 ANOS

Nesta quarta-feira (18), o Chame (Centro Humanitário de Apoio à Mulher) completou 12 anos. Em mais de uma década, aproximadamente 12 mil mulheres foram assistidas pelo programa que oferta gratuitamente atendimento e acompanhamento humanizado nas áreas de psicologia, jurídica e assistência social.

Olhando pelo retrovisor da história, a ex-deputada Marília Pinto, que participou da criação do Centro, afirma que a iniciativa foi um marco na defesa de direitos e no combate à violência contra a mulher. 

“Foi um momento em que entendemos que, como representantes do povo, por meio da Assembleia Legislativa, nós teríamos que ser uma voz presente e permanente, ativa”, relembra.

No retorno das atividades presenciais, o Centro vai ser transferido para um novo prédio, na avenida Santos Dumont, número 1.470, bairro Aparecida, enquanto a antiga sede passa por uma reforma estrutural.

O programa também ampliará a atuação regional, e o município de Rorainópolis, no sul do Estado, será contemplado com um Chame, de acordo com a diretora administrativa, Ana Paula Dias.

“Nós vamos estender o programa até Rorainópolis, pois muitas assistidas do sul do Estado têm entrado em contato conosco através do Zap Chame, pedindo orientação e ajuda. Agora, estamos fazendo um estudo de área, análise de ambiente, para levar esse atendimento humanizado às mulheres que sofrem violência doméstica naquele município, pois os índices são altos”, destaca.

Canais de apoio

O Chame pode auxiliar vítimas de violência doméstica por meio do Zap Chame (95) 98402-0502, que funciona 24 horas por dia, incluindo sábados, domingos e feriados. Além disso, queixas podem ser registradas na Polícia Civil, pelo número 180, ou na Polícia Militar, pelo 190.